Rafael Cardoso Psicanálise

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Sessão de psicanálise é um dos ambientes mais expressivos na vida de uma pessoa. Essa experiência é muito libertadora e empodera as pessoas perante suas demandas, conflitos, traumas e reflexões.

Eu entendo que, antes de tudo, esse momento deve ser amigável, acolhedor, empoderador, agradável e incentivador. É evidente que nem sempre teremos tudo isso ao mesmo tempo, uma vez que entendamos também a relevância do incômodo no processo. Porém, não precisa ser ruim, tampouco traumático. Pelo contrário, deve ser motivador, energizado sob a perspectiva da continuidade.

Neste aspecto, por que tenho tanto interesse sobre aquilo que deve ser uma experiência ideal, tanto para o paciente quanto para o psicanalista?

A resposta está no meu grande respeito por todo o legado da psicanálise ao longo dos séculos e preocupação sobre os inúmeros aspectos da vulgarização do termo “terapeuta”.

Além disso, profissionais estão cada vez mais usando o termo psicanalista em suas redes sociais, mas não se posicionam como pessoas éticas, principalmente, vinculados ao aspecto analítico em si.

Portanto, qual deveria ser a dinâmica de uma sessão de psicanálise? Divido aqui com você aquilo que entendo ser uma dinâmica terapêutica ideal, seja como prática ou até como idealização.

Este é um texto sobre a condição emocional de quem entra numa sessão de psicanálise, certamente, refletindo sobre as dificuldades e resistência da dinâmica psicanalítica por parte do paciente e do analista. Por isso, leia até o final este texto porque se trata da premissa que acredito ser relevante como regramento moral e ético da dinâmica do meu set analítico.

Como deve ser uma sessão de psicanálise, é importante entender que esse processo pode ser acolhedor e empático, tal como explica Rafael Cardoso

Introdução

Em nossa jornada de autoconhecimento e autodesenvolvimento, muitos caminhos podem ser trilhados. Porém, um que se destaca por sua profundidade e capacidade de transformação é a sessão de psicanálise.

Esta abordagem, que busca explorar os recônditos da mente humana, oferece uma ferramenta poderosa para quem deseja não apenas entender a si mesmo em sua essência, mas também resolver traumas, conflitos e desafios emocionais que se apresentam ao longo da vida.

A sessão de psicanálise não é apenas uma conversa casual entre paciente e terapeuta. É um mergulho profundo nas complexidades da psique humana, guiada por métodos e técnicas que têm como objetivo promover o desenvolvimento emocional e cognitivo do indivíduo.

Este espaço seguro e acolhedor permite que a pessoa se abra, compartilhe seus pensamentos mais íntimos, medos, desejos e sonhos, e trabalhe junto ao terapeuta para encontrar respostas e soluções para suas inquietações.

Porém, para compreender a riqueza e eficácia de uma sessão de psicanálise, é preciso olhar para sua origem e para os grandes nomes que moldaram e influenciaram sua prática ao longo dos anos. Entre eles, Sandor Ferenczi é, sem dúvida, um dos mais significativos. Este renomado psicanalista húngaro foi um dos colaboradores mais próximos de Sigmund Freud e, ao longo de sua carreira, contribuiu enormemente para o campo da psicanálise.

Princípio de Relaxamento e Neocatarse

A obra de Ferenczi, especialmente “Princípio de Relaxamento e Neocatarse”, oferece insights valiosos sobre como uma sessão de psicanálise deve ser conduzida. Ele acreditava na importância do relaxamento e na capacidade de o paciente reviver e reprocessar traumas e conflitos emocionais durante a terapia. Para Ferenczi, a psicanálise não era apenas uma técnica; era uma arte delicada que exigia empatia, compreensão e, acima de tudo, paciência por parte do terapeuta.

Ao introduzirmos a influência de Ferenczi na construção do conceito moderno de sessão de psicanálise, nos deparamos com uma abordagem que valoriza o indivíduo em sua totalidade, buscando entender o paciente não apenas como alguém com sintomas a serem tratados, mas como uma pessoa com uma história, desejos e aspirações.

Esta visão humanista da psicanálise ressalta a importância da conexão genuína entre terapeuta e paciente, bem como da criação de um ambiente que promova a cura e o crescimento pessoal.

Em suma, ao decidir embarcar na jornada da psicanálise, não estamos apenas escolhendo uma modalidade terapêutica. Estamos optando por um caminho de profundo autoconhecimento, apoiados por teorias e práticas que têm resistido ao teste do tempo e continuam a transformar vidas até hoje.

Esta introdução é apenas o início de uma viagem fascinante pelo mundo da sessão de psicanálise e pela contribuição inestimável de Sandor Ferenczi a esta disciplina. Vamos explorar juntos?

Acolhimento

O acolhimento, no contexto da sessão de psicanálise, pode ser compreendido como a capacidade do terapeuta em criar um espaço onde o paciente sinta-se verdadeiramente ouvido, respeitado e aceito. É o primeiro passo para estabelecer uma relação terapêutica sólida e confiável.

Imagine adentrar um espaço onde seus medos, ansiedades, traumas e vulnerabilidades podem ser compartilhados sem o risco de julgamento. É esse sentimento de segurança e validação que o acolhimento busca oferecer.

Em terapia, muitos pacientes carregam consigo histórias e sentimentos que, muitas vezes, nunca foram compartilhados ou validados. Muitos vêm de contextos onde suas vozes foram suprimidas ou desvalorizadas. Neste sentido, o acolhimento torna-se fundamental, pois é o primeiro indicativo de que o espaço terapêutico é diferente: é um lugar onde o paciente pode ser ele mesmo, sem receios.

Sandor Ferenczi, um dos mais proeminentes psicanalistas e colaborador de Freud, deu uma atenção especial à natureza do acolhimento na sessão de psicanálise. Ele acreditava que a psicanálise não poderia progredir sem um genuíno interesse e cuidado pelo paciente.

Em sua perspectiva, o analista não era apenas um observador clínico, mas um facilitador ativo no processo de cura, e esse papel só poderia ser efetivamente desempenhado se o terapeuta fosse verdadeiramente acolhedor. Para Ferenczi, o acolhimento envolvia mais do que ouvir; tratava-se de validar, compreender e, em muitos aspectos, participar da experiência emocional do paciente.

O acolhimento pode ser mesmo também alcançado em sessão de psicanálise virtual, tal como diz Rafael Cardoso

Como é o início da sessão de psicanálise?

O primeiro contato na sessão de psicanálise é, sem dúvida, crucial. Ele define o tom para as interações subsequentes e estabelece as primeiras impressões que podem influenciar a disposição do paciente em se abrir ou se retrair.

Uma abordagem acolhedora no início pode ajudar a quebrar barreiras, facilitando a construção de uma relação terapêutica sólida. O paciente, sentindo-se pertencente e aceito, é mais propenso a se engajar no processo terapêutico, explorar suas emoções e trabalhar de forma colaborativa com o terapeuta.

Esta sensação de pertencimento é vital. O ser humano tem uma necessidade inerente de se sentir conectado, de pertencer a algum lugar ou grupo. Em uma sessão de psicanálise, essa sensação de pertencimento pode ser a diferença entre se sentir isolado com seus problemas ou sentir que há uma parceria no processo de entendimento e cura.

Quando um paciente sente que pertence, que é valorizado e que suas experiências são legítimas, ele é mais propenso a se engajar, a confiar e a se abrir, permitindo um trabalho terapêutico mais profundo.

Em conclusão, o acolhimento não é apenas uma técnica ou uma abordagem inicial; é a espinha dorsal da relação terapêutica na sessão de psicanálise. Ele estabelece a base sobre a qual a terapia é construída, garantindo que o paciente sinta-se seguro, validado e, acima de tudo, humano.

A visão de Ferenczi sobre o acolhimento reforça sua importância e nos lembra que a psicanálise é, em sua essência, um encontro humano – e esse encontro deve ser sempre caracterizado pelo cuidado, compreensão e, claro, acolhimento genuíno.

Empatia e conexão emocional

A empatia é frequentemente descrita como a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir o que o outro sente. É uma habilidade que nos permite entender e compartilhar os sentimentos e emoções de outra pessoa. No contexto terapêutico, a empatia vai além do mero entendimento: ela é a pedra angular da relação entre terapeuta e paciente, servindo como uma ponte que facilita a compreensão profunda dos dilemas internos do paciente.

Em qualquer tipo de terapia, mas especialmente na sessão de psicanálise, a empatia se torna crucial. Ela permite que o paciente sinta-se verdadeiramente ouvido e compreendido, criando um ambiente de confiança onde ele se sente seguro para se abrir e explorar aspectos dolorosos ou traumáticos de sua vida. A empatia não é apenas sobre compreender o que o paciente diz, mas também capturar o que fica não dito, as emoções por trás das palavras, os sentimentos que muitas vezes são difíceis de articular.

Sandor Ferenczi, em sua visão da sessão de psicanálise, deu um peso significativo à conexão emocional entre terapeuta e paciente. Ele acreditava que para um tratamento ser eficaz, o analista não deveria ser um observador distante, mas sim um participante ativo na jornada emocional do paciente.

Esta abordagem contrastava com algumas das visões tradicionais da época, que defendiam uma postura mais distante e neutra do terapeuta. Para Ferenczi, o verdadeiro entendimento e cura emergiam quando o terapeuta era capaz de se conectar emocionalmente com o paciente, validando suas experiências e sentimentos.

Uma sessão de psicanlálise e de responsabilidade dos dois lados, ou seja, do paciente e do psicanalista

A sessão de psicanálise é compartilhada entre paciente e psicanalista

Esta conexão emocional, enraizada na empatia genuína, pode impactar de forma substancial o desenvolvimento do tratamento. Quando o paciente sente que seu terapeuta realmente entende e se preocupa com seus sentimentos e experiências, há uma maior disposição para se aprofundar nas questões mais dolorosas e desafiadoras. A cura começa quando o paciente não se sente mais sozinho em sua dor, mas acompanhado por alguém que oferece apoio e orientação.

Adicionalmente, a empatia e a conexão emocional desempenham um papel crucial em fornecer feedbacks ao paciente. Quando um terapeuta pode refletir as emoções do paciente de volta para ele de maneira empática, isso pode ajudar o indivíduo a ganhar insights sobre seus próprios sentimentos e comportamentos. Esta reflexão pode ser um instrumento poderoso para desencadear epifanias e momentos de realização que são essenciais para o progresso terapêutico.

Em resumo, a empatia não é apenas uma ferramenta na sessão de psicanálise; ela é o coração da terapia. Ela permite uma conexão profunda entre terapeuta e paciente, criando um ambiente de confiança e abertura. A visão de Ferenczi sobre a conexão emocional realça a ideia de que a psicanálise não é apenas uma ciência, mas também uma arte – a arte de se conectar, entender e, finalmente, ajudar na jornada de cura do paciente. E, quando essa conexão é estabelecida, as possibilidades de crescimento e transformação são infinitas.

Respeito à Associação Livre

A sessão de psicanálise se destaca por suas técnicas específicas e pela profundidade de seu mergulho na psique humana. Uma das principais ferramentas utilizadas nesse processo é a técnica da associação livre. Mas o que exatamente é isso?

Em termos simples, a associação livre envolve permitir que o paciente fale livremente sobre qualquer coisa que venha à mente, sem censura ou direção específica. É um convite para que o paciente explore seu próprio subconsciente, abrindo portas para memórias, sentimentos e pensamentos que, muitas vezes, permanecem escondidos ou reprimidos.

A associação livre é, sem dúvida, um dos pilares da psicanálise. Freud, o fundador da psicanálise, viu nela uma maneira revolucionária de acessar o inconsciente do paciente. Ele acreditava que, ao permitir que o paciente se expressasse sem restrições, revelações profundas emergiriam, muitas vezes lançando luz sobre traumas, conflitos e desejos ocultos.

Em vez de direcionar a conversa, o terapeuta assume um papel mais passivo, ouvindo atentamente e fazendo intervenções pontuais quando necessário.

Empoderamento da pessoa de sua vida

Sandor Ferenczi, em sua abordagem da psicanálise, valorizou intensamente essa técnica. Ele compreendeu que o poder da associação livre não residia apenas em sua capacidade de revelar o inconsciente, mas também na autonomia que oferecia ao paciente. Para Ferenczi, permitir que o paciente se expressasse livremente era uma forma de empoderamento, uma maneira de dar voz e agência ao indivíduo em terapia.

Ele percebeu que, em muitos casos, os pacientes eram frequentemente silenciados ou sentiam-se inseguros para se expressar em outros contextos de suas vidas. A sessão de psicanálise oferecia um refúgio, um espaço onde poderiam ser verdadeiramente eles mesmos.

O respeito à associação livre pode levar a insights profundos e inesperados. Ao permitir que os pensamentos fluam livremente, os pacientes muitas vezes descobrem conexões e padrões em suas vidas que anteriormente eram obscuros.

Uma memória de infância aparentemente insignificante pode revelar-se fundamental para compreender um comportamento adulto problemático. Uma fobia pode estar ligada a um evento traumático esquecido.

Um sonho recorrente pode ser decodificado, revelando desejos e medos profundos. Estas revelações, quando tratadas com empatia e habilidade pelo terapeuta, podem oferecer uma compreensão clara das questões que o paciente enfrenta, bem como caminhos potenciais para a cura.

Em resumo, a associação livre não é apenas uma técnica, mas uma filosofia na sessão de psicanálise. Respeitá-la significa respeitar o paciente, reconhecendo sua autonomia, sua voz e sua capacidade de autodescoberta.

Ferenczi, com sua ênfase no cuidado e no envolvimento emocional, nos lembra da importância de ouvir com atenção e de valorizar cada fragmento de revelação, por mais confuso ou trivial que possa parecer. Ao fazer isso, a sessão de psicanálise se torna um espaço de descoberta, compreensão e, finalmente, transformação.

Distanciamento saudável: nem tanto ao céu, nem tanto à Terra. Meio termo

A relação terapêutica é única, caminhando na tênue linha entre a proximidade emocional e a necessária distância profissional. O desafio para os psicanalistas é como equilibrar esses dois extremos para proporcionar um ambiente terapêutico eficaz e curativo.

Assim como em uma dança, em que é preciso entender quando se aproximar e quando se afastar, a sessão de psicanálise também exige esse discernimento.

A psicanálise, em sua essência, é profundamente pessoal. O paciente é encorajado a se abrir, compartilhando pensamentos e sentimentos que podem nunca ter sido expressos antes. No entanto, esse nível de abertura exige uma contrapartida por parte do terapeuta, que precisa garantir um espaço seguro e livre de julgamentos.

Aqui entra a complexidade do equilíbrio: o terapeuta deve ser suficientemente envolvente para que o paciente sinta confiança, mas também suficientemente distante para manter a objetividade.

Sandor Ferenczi, em sua inovadora contribuição à psicanálise, reconheceu essa necessidade de distanciamento saudável. Ele acreditava que o terapeuta deveria estar emocionalmente disponível, mas não de uma forma que pudesse confundir ou sobrecarregar o paciente.

Coluna do meio

Ferenczi, com sua sensibilidade clínica aguçada, percebeu que um envolvimento excessivo poderia ser tão prejudicial quanto uma distância excessiva. O meio termo, como ele argumentava, era crucial.

Em suas reflexões, Ferenczi apontava que o terapeuta deveria servir como um espelho, refletindo as emoções e sentimentos do paciente, mas sem impor suas próprias emoções ou preconceitos. Essa neutralidade, no entanto, não significava frieza ou indiferença. Significava manter uma posição de observador engajado, conectado emocionalmente, mas sem se perder nas emoções apresentadas.

Encontrar o equilíbrio ideal entre envolvimento e neutralidade é uma arte que requer prática e introspecção constante por parte do terapeuta.

Cada paciente é único e o que funciona para um pode não funcionar para outro. Portanto, o terapeuta deve estar sempre atento, recalibrando sua abordagem conforme necessário.

Na prática, isso pode significar fazer uma pergunta em vez de oferecer uma afirmação, ou talvez oferecer um silêncio confortável em vez de preencher o espaço com palavras. Em alguns momentos, pode ser necessário se aproximar mais, em outros, recuar e dar espaço ao paciente.

Em conclusão, o distanciamento saudável na sessão de psicanálise é um equilíbrio dinâmico entre aproximar-se e distanciar-se. Ferenczi, com sua perspicácia clínica, nos deu ferramentas valiosas para navegar nesse delicado equilíbrio, lembrando-nos da importância de permanecer presentes, mas também de manter uma perspectiva clara e objetiva. É nesse equilíbrio que a verdadeira cura pode começar a acontecer.

Relaxamento na sessão de psicanálise

Ao abordar a jornada terapêutica, não é raro que a mente das pessoas seja invadida por imagens de um divã clássico e um paciente deitado, explorando profundamente os recônditos da mente. Mas além do cenário físico e das palavras trocadas, existe um elemento essencial, muitas vezes subestimado, no processo: o relaxamento. A capacidade de relaxar, de soltar-se em um ambiente seguro e acolhedor, é central para o sucesso da sessão de psicanálise.

O relaxamento é muito mais que simplesmente um estado físico; é uma abertura, uma disposição a explorar o desconhecido e a enfrentar os medos e inseguranças. É uma entrega consciente ao processo, uma aceitação do próprio eu e do outro. O relaxamento permite que as defesas sejam abaixadas e que o indivíduo se apresente de forma genuína e honesta.

Sandor Ferenczi, em sua perspicaz obra, enfatiza essa questão de maneira eloquente. Ele reconhece o poder do relaxamento como uma ponte para a descoberta de si mesmo e para a construção de uma relação terapêutica autêntica.

Em “Princípio de Relaxamento e Neocatarse”, Ferenczi explora a ideia de que a tensão, muitas vezes resultante de traumas e defesas psicológicas, pode ser uma barreira no processo terapêutico. Ao promover o relaxamento, essa tensão pode ser aliviada, dando espaço para uma experiência terapêutica mais profunda e significativa.

Uma sessão de psicanálise é eficaz, pois tanto requer que se faça paciente. O deve criar um ambiente onde paciente o se se seguro sinta para, relaxar para ser ele medo sem mesmo de julgamento ou. O paciente, por sua vez, deve estar disposto a se se entregar ao processo, um se abrir e explorar os cantos mais sombrios e desconhecidos de sua mente.

Um ponto a destacar na sessão de psicanálise virtual

O ambiente é também uma construção bastante importante. Quando não presencial, o atendimento deve estar em sintonia com aquilo que o paciente produz nas relações virtuais. Quando não seguro, o paciente precisa ter a percepção que a sessão seja estabelecida num outro momento.

Não é produtivo que a rigidez de um calendário seja estabelecido em todos os momentos. Tal interpretação precisa também estar amparada pela reconstrução do mesmo compromisso. Por isso, caso o paciente esteja impedido de fazer a sessão por conta das inúmeras questões variáveis de seu contexto, uma nova perspectiva de horário e dia deve ser estabelecido.

Nem toda sessão de psicanálise precisa ser um ato rígido de interpretação. Nem todas as coisas estão no controle de quem está submetido a análise. Neste entendimento, podemos flexibilizar questões orgânicas ponto a ponto.

Paciência: o tempo para questões como parte do processo na sessão de psicanálise

A trajetória da terapia é uma estrada longa e sinuosa, onde cada curva pode revelar insights, conflitos e até mesmo resoluções. Mas, assim como qualquer jornada significativa, a psicanálise requer tempo. A paciência, tanto do terapeuta quanto do paciente, é um dos pilares que sustenta a integridade e a eficácia da sessão de psicanálise.

É um erro comum, e compreensível, querer resultados rápidos em terapia. Vivemos em um mundo que exige soluções instantâneas e gratificações imediatas. No entanto, quando se trata do complexo terreno da mente humana, as coisas raramente funcionam de forma tão linear ou previsível. A profundidade dos sentimentos, traumas e defesas construídas ao longo de toda uma vida não pode ser completamente explorada ou resolvida em poucas sessões.

Sandor Ferenczi, em sua obra “Princípio de Relaxamento e Neocatarse”, destaca a importância da paciência no processo terapêutico. Ele reconhece que a verdadeira mudança e o entendimento vêm não apenas da exploração, mas também da reflexão, digestão e assimilação das revelações feitas em terapia. Para Ferenczi, a terapia é uma dança delicada entre avançar e recuar, entre mergulhar profundamente e dar um passo atrás para refletir.

Uma ansiedade excessiva por resultados pode ser, de fato, contraproducente. Quando um paciente está muito focado em alcançar uma resolução rápida, ele pode inconscientemente evitar tópicos ou sentimentos mais dolorosos e profundos. Da mesma forma, um terapeuta que está muito focado em proporcionar alívio rápido pode perder nuances importantes ou forçar interpretações prematuras. A sessão de psicanálise para um campo de mediação, não é mesmo?

Respeitar o ritmo do paciente é fundamental. Cada indivíduo tem seu próprio tempo para processar, aceitar e mudar. Ferenczi acreditava firmemente que a chave para uma terapia eficaz não estava em forçar insights, mas em permitir que eles surgissem naturalmente, no tempo do paciente.

Em conclusão, a paciência é mais do que uma virtude na psicanálise; é uma necessidade. A mente humana é complexa e multifacetada, e explorar seus recônditos exige tempo, cuidado e, acima de tudo, paciência. Ferenczi, com sua percepção aguçada, nos ensina que o verdadeiro valor da terapia não está em respostas rápidas, mas no profundo entendimento e aceitação que vêm com o tempo. A sessão de psicanálise é, em sua essência, uma jornada, e como qualquer jornada significativa, ela não deve ser apressada.

O Incômodo como Parte Inerente da sessão de psicanálise

Adentrar as profundezas da mente humana, especialmente as camadas mais escondidas de nossas emoções e traumas, é, sem dúvida, uma tarefa desafiadora. Assim como um músculo sendo exercitado, pode haver momentos de dor e desconforto. No contexto da sessão de psicanálise, esse incômodo não só é esperado como também é visto como uma parte crucial do processo de cura.

O processo psicanalítico não é uma estrada plana e suave. Ao contrário, é uma viagem por terrenos acidentados, cheios de obstáculos e desafios. Em muitos casos, a resistência e o desconforto são indicativos de que estamos chegando a áreas que precisam de atenção e cura. Evitar essas áreas, por mais tentador que seja, seria evitar o próprio coração do trabalho terapêutico.

Sandor Ferenczi, em suas reflexões sobre o processo terapêutico, não evitou o tema do incômodo. Ele acreditava que esse desconforto, essa inquietação interna, era muitas vezes o prelúdio de um avanço significativo na terapia. Para Ferenczi, o papel do analista era ajudar o paciente a reconhecer, enfrentar e, finalmente, integrar esses sentimentos de desconforto, transformando-os em insights e crescimento emocional.

No entanto, esse processo não é algo que o paciente deve enfrentar sozinho. O terapeuta, equipado com ferramentas e treinamento, serve como um guia compassivo, ajudando o paciente a navegar por essas águas tumultuadas. É aqui que a habilidade do terapeuta em fornecer acolhimento, empatia e um ambiente seguro se torna crucial. A presença estável do terapeuta oferece ao paciente o apoio necessário para explorar esses sentimentos desconfortáveis e, eventualmente, transcendê-los.

Por fim, é importante que o paciente entenda que esse desconforto é temporário e, mais do que isso, é um sinal de progresso. Ferenczi, com sua profunda compreensão da psique humana, nos ensinou que o desconforto não é algo a ser temido, mas sim abraçado. Pois é através do enfrentamento desse incômodo que encontramos os insights mais profundos e a cura verdadeira na sessão de psicanálise.

Sandor Ferenczi: O Pioneiro da Empatia na Psicanálise

Nascido na Hungria em 1873, Ferenczi rapidamente se tornou uma figura central na psicanálise europeia do início do século XX. Embora muitas vezes estivesse em sintonia com as ideias de Freud, ele também tinha suas próprias convicções, o que levou a uma série de correspondências ricas e, ocasionalmente, controvérsias entre os dois.

Onde Ferenczi realmente brilhou, no entanto, foi em sua abordagem centrada na relação terapêutica. Ele acreditava que a cura psicanalítica não era possível sem um genuíno entendimento e conexão emocional entre o analista e o analisando.

Seu conceito de “elasticidade técnica” reflete essa visão, sugerindo que o terapeuta deve ser flexível e adaptar sua abordagem às necessidades individuais do paciente, em vez de seguir rigidamente um conjunto específico de técnicas. Ferenczi também introduziu a ideia de “confusão de línguas” entre adultos e crianças, destacando os mal-entendidos traumáticos que podem ocorrer e como eles afetam a psique.

Sua obra “Princípio de Relaxamento e Neocatarse” destaca a importância do relaxamento na sessão de psicanálise, sugerindo que o paciente precisa estar em um estado relaxado para acessar e processar traumas profundos.

Esta visão transformou a dinâmica da sessão de psicanálise, com o ambiente da terapia se tornando um espaço seguro, no qual o paciente se sente acolhido e compreendido, permitindo que ele explore livremente suas emoções e traumas.

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