Rafael Cardoso Psicanálise

Narcisista é psicopata? Essa pergunta permeia a experiência que as vítimas podem ter como impressão de realidade. No entanto, a dúvida tem sua relação genuína e lógica, uma vez que tais experiências são traumas e marcas de sofrimento.

Vale o alerta. Você não precisa provar nada para se afastar da pessoa. Tem gente que imagina ser relevante isso, porém, essa premissa só beneficia quem está abusando nesta relação.

Inclusive, dada a experiência atual das redes sociais, onde se trata os diagnósticos psiquiátricos como disputa e / ou gamificação, vale a pena esclarecer questões associadas a este respeito.

A afirmação “nem todo narcisista é psicopata, mas todo psicopata é narcisista” ecoa em corredores da internet e até mesmo em consultas médicas, gerando confusão e alimentando estereótipos perigosos. É hora de desmascarar essa ideia e mergulhar nas nuances dos transtornos de personalidade narcisista (TPN) e antissocial (TPAS), reconhecendo suas similaridades e diferenças.

Narcisista é psicopata? Acredito que não
@rafaelcardosopr

MITO: existe narcisista psicopata? Não. Eu falo nesse vídeo a respeito deste equívoco que pessoas insistem em replicar ante o pensamento desastroso da perseguição por diagnósticos diversos distorcendo a realidade. #psicopata #narcisista #narcisistas #relacionamento #terapia

♬ som original – Rafael Cardoso

Analisando a Frase

“Nem todo narcisista é psicopata…”

Isso está correto. Muitas pessoas com traços narcisistas não exibem os comportamentos perigosos e a falta de remorso típica dos psicopatas. Narcisistas patológicos podem buscar poder e admiração, mas isso não significa que eles sejam propensos a comportamentos violentos ou criminosos.

“…mas todo psicopata é narcisista.”

Esta parte da frase é problemática por várias razões:

  1. Complexidade dos Transtornos de Personalidade
    • A psicopatia e o narcisismo, apesar de terem algumas características sobrepostas, são distintos. Um psicopata pode exibir traços de narcisismo, como grandiosidade e falta de empatia, mas isso não significa que todos os psicopatas sejam narcisistas no sentido clínico do TPN.
    • A psicopatia é uma condição multifacetada que inclui um espectro de comportamentos e traços que vão além do narcisismo. Esses incluem uma propensão à impulsividade, ao comportamento antissocial e à ausência de remorso, que não são necessariamente presentes em todos os narcisistas.
  2. Diferença de Motivações
    • Narcisistas buscam validação e admiração para manter uma autoimagem grandiosa. Psicopatas, por outro lado, são frequentemente motivados pelo desejo de controle, poder e a satisfação de impulsos, sem a necessidade da admiração constante que caracteriza os narcisistas.
  3. Diferença de Empatia
    • Enquanto tanto narcisistas quanto psicopatas podem demonstrar falta de empatia, a origem dessa falta de empatia é diferente. Nos narcisistas, a falta de empatia pode estar relacionada à sua fixação na autoimagem. Nos psicopatas, é frequentemente uma ausência fundamental de resposta emocional aos outros, o que é mais profundo e inerente à sua condição.

Vale explicar a existência do traço narcísico na composição da subjetividade humana.

Todos somos narcisistas

Quando estamos nos desenvolvendo nos laboratórios da infância e adolescência, passamos por aspectos experienciais capazes de dar condições e estruturas de autoestima. Esse processo, Freud percebeu quando estabeleceu foco no texto Sobre o narcisismo, uma introdução (1914 – 2010).

Desta forma, compreendo que precisamos do traço narcísico para compreendermos nossa individualidade. No entanto, Freud defende a premissa, coerentemente, da existência desta característica de forma branda, já elaborada, diante dos ateliês da nossa trajetória natural de maturação emocional.

Por isso, pensar na premissa que um antissocial possa ter um traço narcísico como fonte principal de interesse não se coaduna com a sua organização de personalidade, mas existe sim um interesse natural pela sua individualidade.

Da mesma forma o narcisista. No entanto, esta organização de personalidade demanda de mais interesse por aquilo que imagina ter por direito. Como assim? Ele imagina em sua fantasia que o mundo lhe deve algo. Independente de seu senso de justiça, ele se enxerga uma eterna vítima.

Certamente, ele terá, portanto, mais interesse em demandar daqueles que o cercam pela compensação. O que não se vê com intensidade no antissocial. Vale lembrar que o narcisista se acha vítima, o antissocial tem muito mais certezas de suas qualidades, longe da vítima anteriormente citada.

Narcisista é psicopata? Acredito que não

Perspectiva Psicanalítica sobre a pergunta: narcisista é psicopata?

Freud e Lacan

  • Freud introduziu o conceito de narcisismo e como ele se desenvolve desde a infância. Ele não igualou narcisismo a psicopatia, mas viu ambos como parte de um espectro de desenvolvimento e funcionamento da psique.
  • Lacan, ao discutir o “estádio do espelho” e a formação do ego, mostrou como a imagem que temos de nós mesmos é construída em relação ao Outro. Um psicopata, na visão lacaniana, poderia ser visto como alguém fora da estrutura simbólica que regula a sociedade, diferente de um narcisista que ainda busca um lugar dentro dessa estrutura.

Kernberg

  • Otto Kernberg trabalhou extensivamente com transtornos de personalidade e fez distinções claras entre narcisismo patológico e psicopatia. Ele destacou que, embora haja sobreposição em alguns traços, a dinâmica interna e os padrões de comportamento diferem substancialmente.

Narcisista é Psicopata? Traços em Comum, Mas Destinos Distintos

A dúvida persiste? Você ainda não entende se narcisista é psicopata? É verdade que o TPN e o TPAS compartilham algumas características, como a grandiosidade, a falta de empatia e a manipulação. No entanto, essas semelhanças superficiais mascaram diferenças profundas na natureza dos transtornos e nas motivações por trás dos comportamentos.

O Narcisista em Busca de Adoração:

O indivíduo com TPN é dominado por uma fantasia grandiosa de si mesmo, acreditando ser superior e merecedor de admiração e tratamento especial. Ele busca incessantemente validação externa, alimentando sua autoestima frágil com elogios e reconhecimento. A crítica, por outro lado, é recebida com raiva e ressentimento, pois ameaça sua imagem inflada de si mesmo.

O Psicopata: Um Predador Emocional:

O psicopata, por sua vez, é um predador emocional. Ele manipula e usa os outros para alcançar seus próprios objetivos, sem se importar com seus sentimentos ou necessidades. A empatia é uma palavra vazia em seu vocabulário, substituída por uma frieza calculista e uma total falta de remorso por suas ações.

Desvendando as Raízes dos Transtornos:

As origens do TPN e do TPAS ainda são objeto de investigação, mas já se percebe que essas funcionalidades psíquicas multifatoriais e se estruturam a partir de diversas relações interpessoais e intrapessoais. Além disso, os aspectos da comunidade estão presentes também nas influências relativas ao constructo psíquico.

No caso do TPN, acredita-se que a supervalorização ou a negligência excessiva pelos pais durante a infância possa contribuir para o desenvolvimento de uma autoestima frágil e da necessidade de validação externa. Já o TPAS está mais associado a experiências de abuso, negligência e violência na infância, além de fatores genéticos.

Tratamento: Uma Jornada Individualizada

O tratamento do TPN e do TPAS é complexo e exige um acompanhamento profissional especializado. No caso do TPN, a psicoterapia individual pode ser eficaz para ajudar o indivíduo a desenvolver uma autoestima mais realista, melhorar suas habilidades interpessoais e lidar com a crítica de forma mais construtiva.

Para o TPAS, o tratamento geralmente envolve uma combinação de psicoterapia e medicação para controlar comportamentos impulsivos e agressivos. É importante ressaltar que o TPAS é um transtorno de difícil tratamento, e a resposta à terapia pode variar significativamente entre os indivíduos.

Desmistificando a Afirmação:

A afirmação de que “nem todo narcisista é psicopata, mas todo psicopata é narcisista” é simplista e enganosa. Ambos os transtornos são complexos e distintos, com suas próprias características, origens e formas de tratamento.

É fundamental evitar generalizações e estereótipos, reconhecendo que cada indivíduo é único e que a avaliação e o tratamento devem ser feitos por profissionais qualificados, com base em uma análise individualizada.

A psicanálise, com sua lente profunda e exploratória, oferece uma perspectiva única para a compreensão dos transtornos de personalidade narcisista (TPN) e antissocial (TPAS). Através da análise dos mecanismos inconscientes, das relações interpessoais e do desenvolvimento infantil, a psicanálise nos convida a desvendar as raízes desses transtornos e as motivações por trás dos comportamentos complexos que os caracterizam.

Narcisismo: Uma Alma Faminta por Reconhecimento

Na visão psicanalítica, o TPN é enraizado em um conflito fundamental na estrutura da psique: a luta entre o ego idealizado e o ego real. O indivíduo com TPN possui um ego idealizado grandioso e inflado, que exige constante admiração e reconhecimento. Essa necessidade voraz de validação externa esconde, no entanto, um ego real frágil e inseguro, incapaz de lidar com a crítica e a frustração.

As raízes do TPN podem ser buscadas na infância, em um ambiente familiar marcado por supervalorização excessiva ou negligência. Nesses casos, a criança não desenvolve um senso de identidade sólido e autêntico, ficando dependente da validação externa para se sentir valorizada.

Narcisista é psicopata? Acredito que não

Psicopatia: Uma Alma Vazia de Empatia

O TPAS, por sua vez, é caracterizado por uma profunda falta de empatia e uma frieza emocional desconcertante. O indivíduo com TPAS não consegue se conectar com os sentimentos dos outros, vendo-os como objetos a serem manipulados para alcançar seus próprios objetivos.

Na psicanálise, essa falta de empatia é vista como uma falha no desenvolvimento do superego, a instância psíquica responsável pela moral e pela consciência. O indivíduo com TPAS não internaliza as normas sociais e morais, agindo de forma impulsiva e sem se importar com as consequências de seus atos.

As origens do TPAS são complexas e multifatoriais, envolvendo fatores genéticos, sociais e ambientais. Experiências de abuso, negligência e violência na infância podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno, além de fatores genéticos que podem predispor o indivíduo a características psicopáticas.

Psicanálise: Um Caminho para a Cura?

O tratamento do TPN e do TPAS é um desafio complexo, e a psicanálise pode oferecer ferramentas valiosas para a jornada da cura. Através da análise dos mecanismos inconscientes, das relações interpessoais e do desenvolvimento infantil, a psicanálise pode ajudar o indivíduo a:

  • Narcisista:
    • Desenvolver um senso de identidade mais sólido e autêntico.
    • Reduzir a dependência da validação externa.
    • Aprender a lidar com a crítica e a frustração de forma mais construtiva.
    • Desenvolver empatia e capacidade de se conectar com os sentimentos dos outros.
  • Psicopata:
    • Internalizar as normas sociais e morais.
    • Desenvolver empatia e capacidade de se conectar com os sentimentos dos outros.
    • Lidar com os impulsos agressivos de forma mais construtiva.

É importante ressaltar que o tratamento do TPAS é um processo longo e complexo, e os resultados podem variar significativamente entre os indivíduos. A psicanálise pode ser uma ferramenta útil nesse processo, mas não é uma cura milagrosa.

Conclusão:

A psicanálise oferece uma perspectiva valiosa para a compreensão dos transtornos de personalidade narcisista e antissocial. Através da análise dos mecanismos inconscientes, das relações interpessoais e do desenvolvimento infantil, a psicanálise nos convida a desvendar as raízes desses transtornos e as motivações por trás dos comportamentos complexos que os caracterizam.

O tratamento do TPN e do TPAS é um desafio complexo, e a psicanálise pode oferecer ferramentas valiosas para a jornada da cura. No entanto, é importante ter em mente que a psicanálise não é uma cura milagrosa, e o sucesso do tratamento depende de diversos fatores, incluindo a gravidade do transtorno, a motivação do indivíduo e o trabalho conjunto de profissionais qualificados.

Quem é Rafael Cardoso – psicanalista

Rafael Cardoso é um psicanalista que atua com uma abordagem contemporânea, pós-freudiana, estabelecida num processo analítico empático para questões emocionais e conflitos familiares.

Inclusive, isso, lhe proporciona experiência significativa no acolhimento de vítimas de abusos, especialmente relacionadas a narcisistas, borderlines e outras organizações de personalidade cujas interações possam ser delicadas.

Através da terapia online, Rafael atende diversas pessoas no Brasil e no mundo adequando o processo analítico à virtualidade da experiência terapêutica.

Pós-graduado pela PUCRS, Rafael traz uma visão humanizada diante as novas relações contemporâneas, líquidas e aceleradas. Possui um grande canal de conteúdo no TikTok sobre as dinâmicas abusivas em relações tóxicas.

Acesse também o seu canal no Youtube e conheça os materiais e palestras disponibilizadas em forma de lives e aulas instrumentalizando o manejo clínico e a psicanálise.

Para entrar em contato com Rafael Cardoso e conferir agenda de atendimento para sessões terapêuticas com o método da psicanálise, basta acessar este link e terá acesso ao WhattsApp.

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