Rafael Cardoso Psicanálise

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Depressão é muito mais que uma tristeza de gente mole, fraca, preguiçosa, pois trata-se de um estado complexo e profundo ante o abismo do tédio e da falta de identificação.

Depressão é uma doença que hoje está presente em cerca de 6% da população brasileira, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Até 2030, cerca de 15% dos brasileiros poderão estar diagnosticados com depressão. E num futuro mais distante, a depressão poderá estar presente em todos os indivíduos.

Por que temos a certeza do crescimento da depressão ante a expansão também do império da felicidade?

Seria uma realidade paradoxal que demanda reflexão mais apurada. Porém, já é também relevante fundamentar um ponto de partida a partir da ética do desejo e do cuidado, segundo o olhar da psicanálise para o exercício proposto aqui.

A seguir, trago perguntas muito frequentes na minha clínica e que podem ajudar você a entender suas próprias questões.

Mulher em depressão olhando para o horizonte enquanto pensa na sua terapia de psicanálise

Por que estou com depressão?

As causas da depressão são complexas e multifacetadas, como as raízes de uma árvore frondosa. Fatores biológicos, como alterações neuroquímicas no cérebro, podem contribuir para o desenvolvimento da doença.

Há também a compreensão de que estímulos externos podem levar você a sentir essa tristeza profunda e desmedida. Luto, enfrentamento de doenças e privações, falta de um relacionamento idealizado, bullying, preconceito, tédio, ansiedade, pânico. Veja quantos desafios podem ser atravessados em nossa existência.

Eventos traumáticos, perdas significativas e predisposição genética também podem lançar sombras sobre a psique, tornando-a mais vulnerável à depressão.

Segundo Freud, em “Luto e Melancolia” (1917), ela se manifesta como:

uma perda de interesse no mundo externo, uma perda da capacidade de amar, uma inibição de todas as funções e um recuo do ego em relação ao mundo externo“.

Sigmund Freud – Luto e Melancolia (1917)

É preciso tomar remédios para combater a depressão?

A medicação pode ser um instrumento crucial no combate à depressão. Ela atua no nível neuroquímico, auxiliando na regulação dos neurotransmissores e aliviando os sintomas da doença.

No entanto, é importante ressaltar que a medicação não é a única solução. É necessário abordar a doença com uma abordagem multidisciplinar. Construir essa perspectiva pode ser a única forma de respeitar a complexidade da questão.

A terapia, como uma bússola que orienta o navegante em meio à tempestade, é fundamental para identificar as raízes da depressão e desenvolver mecanismos de enfrentamento saudáveis.

Se confiar apenas nas abordagens medicamentosas, estará sempre dependendo dos resultados imediatos do alívio sintomático. Após parar o consumo do medicamento, o sofrimento volta, criando assim a dependência dopaminérgica instituída pela medicação. Cuidado.

No livro “Nação Dopamina”, Anna Lembke reflete a respeito da promíscua relação entre médico e paciente ante o sofrimento, pois o psiquiatra pode prescrever a medicação sem evidenciar o aspecto terapêutico em outra abordagem como essencial. Assim, ele encarna a solução de forma equivocada e corrupta.

Medicamento tem que ser uma estratégia de começo, meio e fim, desde o início da relação com o paciente.

Mulher sentada em depressão enquanto pensa na terapia com psicanálise em seu escritório
Uso de medicamentos precisam estar presentes em um processo multidisciplinar terapêutico. Só medicação não resolve nada.

Por que sinto medo de entrar em depressão?

O medo da depressão, como uma névoa que obscurece o futuro, pode ser um sentimento angustiante. Esse receio pode estar ligado a experiências passadas com a doença, à história familiar ou ao conhecimento dos seus efeitos devastadores.

É possível também identificar um processo amedrontador vinculado à construção moral que torna a depressão pejorativa. Afinal de contas, ficar com depressão pode ser a constatação de algum tipo de derrota, o que não é nem justo, nem verdade.

É importante reconhecer e acolher esse medo, buscando ajuda profissional para lidar com ele de forma eficaz. Na terapia, podemos entender esse processo como um recurso de acolhimento, pois aceitar a ideia de ser uma pessoa atravessada por preconceito e ser vítima disso.

O medo pode ser um sentimento vinculado ao diferente. Isso é também uma forma de linguagem.

Quais os sintomas que podem identificar a depressão?

A depressão se manifesta de diversas formas, como um camaleão que se adapta ao seu ambiente. Alguns dos sintomas mais comuns incluem:

  • Tristeza profunda e persistente;
  • Perda de interesse em atividades prazerosas;
  • Alterações no sono e no apetite;
  • Fadiga e falta de energia;
  • Dificuldade de concentração e memória;
  • Sentimentos de culpa e inutilidade;
  • Pensamentos de morte ou suicídio.

No entanto, é válido lembrar que você pode estar num estado deprimido disfarçado, pois renega a mera existência da melancolia, mas se dedica a alimentar sintomas inconscientes.

Aliás, tais estruturas sintomáticas podem ser reforçadores do estado deprimido porque ficam associados.

Relacionamento com a família pode provocar a depressão?

As relações familiares, como um tecido complexo, podem influenciar o desenvolvimento da depressão. Dinâmicas familiares disfuncionais, como negligência, abuso ou excesso de controle, podem contribuir para o sofrimento psíquico do indivíduo.

Evidentemente, as relações familiares criam necessidade sobre o pertencimento diante um sistema familiar. Porém, também podem ser populares estressores e traumáticas experiências para pessoas que não geram expectativas a esse mesmo sistema familiar.

Quebrar expectativas pode ser um aspecto moral que torna as coisas muito mais pesadas se a família não privilegia e valoriza o respeito sobre as diferenças.

Além disso, as motivações tóxicas e abusivas entre pais e filhos pode gerar consequências brutais.

Depressão pode ser provocado por algum traço genético?

Assim como a cor dos olhos ou a altura, a genética pode exercer influência sobre a predisposição à depressão. Estudos científicos demonstram que herdar genes específicos de um familiar pode aumentar o risco de desenvolver a doença. Essa influência, no entanto, não é determinística.

Estima-se que a genética contribua entre 30% e 50% para o desenvolvimento da depressão, enquanto os 50% a 70% restantes são atribuídos a outros fatores, como o ambiente em que vivemos e as experiências que vivenciamos.

Ter um familiar com depressão não significa que você necessariamente a desenvolverá. É importante ter em mente que a hereditariedade é apenas um dos vários fatores que podem influenciar na doença.

Diversos outros aspectos, como traumas na infância, eventos de vida negativos, estilo de vida e até mesmo fatores biológicos, como alterações neuroquímicas no cérebro, podem contribuir para o desenvolvimento da depressão.

A Complexa Interação entre Genes e Ambiente na Depressão:

A relação entre genes e ambiente na depressão é complexa e ainda está sendo estudada por cientistas. O que se sabe até agora é que a genética não atua de forma isolada. Os genes podem tornar uma pessoa mais vulnerável à depressão, mas são os fatores ambientais que geralmente desencadeiam a doença.

Por exemplo, uma pessoa com predisposição genética à depressão pode ser mais propensa a desenvolvê-la se passar por um evento traumático, como a perda de um ente querido.

Depressão tem a ver com alguma fraqueza de personalidade?

Alguns podem encarar a depressão como um demérito, uma vez que vivemos em ambientes tóxicos e repletos de preconceituosos. No entanto, é válido lembrar que isso nada tem a ver com personalidade.

Somos acometidos por sofrimentos e isso não nos define. Pelo contrário, pois precisamos passar pelos processos de sofrimento se queremos uma vida real, concreta, pautada nos aspectos verdadeiros da realidade.

Portanto, imaginar que depressão possa ser algum aspecto de fraqueza, demonstra a grande ignorância sobre o assunto. O mais sensato é não dar ouvidos para quem está apresentando esse tipo de visão de mundo.

Luto pode provocar a depressão?

O luto é por si só um grande movimento de enfrentamento em nossas vidas. A perda sempre causa grande comoção e provoca um estado deprimido forte, dependendo inclusive do contexto associado ao evento do luto.

Evidente que a empatia sobre a falta gera muito a premissa do estado deprimido. No entanto, o luto pode ser favorável na concepção da superação do adoecimento deprimido.

Freud já tinha refletido sobre isso no mesmo texto já citado aqui, pois o luto estabelece um sofrimento vinculado ao objeto que falta. Trata-se do sofrimento percebido no objeto identificado. O luto é o significado do estado deprimido.

Outros tipos de estados deprimidos podem não ter o objeto do sofrimento percebido. Isso pode gerar mais dificuldade em compreender as questões da falta.

O luto não tem tempo para passar. No entanto, o próprio Freud considerava que um tempo natural seria de 2 anos perante o sofrimento percebido. Evidente que durante este tempo, a pessoa pode buscar conforto em terapia. Na psicanálise, esse processo pode ser muito bem elaborado na construção da integração desse sofrimento.

Depressão é falta de motivação?

Se levarmos em consideração o que Lucas Napoli fala nesse vídeo, devemos perceber que essa falta de motivação pode ser um erro de interpretação de quem afirma isso.

Depressão pode ser falta de vitaminas ou desequilíbrio hormonal?

Evidentemente que essa hipótese deve ser explorada como ponto de partida ante o diagnóstico da depressão. O desequilíbrio hormonal pode trazer desconfortos físicos, desenvolvimento de doenças e adoecimento psíquico também.

Por isso, é importante consultar um psiquiatra que peça exames ou ginecologista / endocrinologista para compreender a realidade hormonal. Desta forma, os aspectos físicos podem ser descartados ante o sofrimento psíquico.

Faça sempre um acompanhamento hormonal e atividades físicas para manter o corpo equilibrado e a mente saudável.

Depressão pode ser motivo de afastamento no trabalho?

A depressão pode afetar o desempenho profissional de diversas maneiras, como:

  • Presenteísmo: Redução da produtividade e do foco, com aumento de erros e atrasos.
  • Absenteísmo: Faltas frequentes ao trabalho, levando a desorganização e sobrecarga para os colegas.
  • Dificuldades de relacionamento: Irritabilidade, desmotivação e isolamento social, prejudicando o clima organizacional.

O Afastamento como Medida Necessária:

Quando a depressão se torna incapacitante, o afastamento do trabalho pode ser a única opção para que o indivíduo possa se concentrar em sua recuperação. Essa medida visa:

  • Proteger a saúde do empregado: Permitir que a pessoa se dedique ao tratamento e recupere sua saúde mental.
  • Garantir a segurança no trabalho: Reduzir o risco de acidentes e outros problemas decorrentes da doença.
  • Melhorar o desempenho profissional: Possibilitar o retorno do colaborador com mais saúde e disposição.

Implicações para o Empregador:

O afastamento de um colaborador por depressão pode gerar desafios para o empregador, como:

  • Custos adicionais: Contratação de substituto, pagamento de benefícios e treinamento.
  • Perda de produtividade: Desorganização da equipe e impacto nos resultados da empresa.
  • Dificuldades de gestão: Necessidade de lidar com a situação de forma humanizada e legal.

Obrigações Legais do Empregador:

  • Garantir o direito ao afastamento: A Lei de Previdência Social (8.213/91) garante o afastamento por até 12 meses, com possibilidade de prorrogação.
  • Manter o vínculo empregatício: O contrato de trabalho é suspenso durante o afastamento, mas o empregado não é demitido.
  • Pagar o salário-doença: O empregador é responsável pelo pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento. Após esse período, o INSS assume o pagamento do benefício.

Recomendações para o Empregador:

  • Promover um ambiente de trabalho saudável: Reduzir o estresse, incentivar a comunicação e oferecer suporte aos colaboradores.
  • Oferecer programas de apoio à saúde mental: Palestras, workshops e acompanhamento psicológico podem ajudar na prevenção e tratamento da depressão.
  • Tratar o colaborador com respeito e empatia: A depressão é uma doença e o colaborador precisa de apoio durante sua recuperação.

Implicações para o Empregado:

O afastamento do trabalho pode ser um momento difícil para o empregado, gerando:

  • Insegurança: Preocupação com a perda de renda e com o futuro profissional.
  • Sentimentos de culpa: Sensação de estar abandonando seus colegas e de não ser capaz de cumprir suas obrigações.
  • Isolamento social: Dificuldade de manter contato com amigos e familiares.

Recomendações para o Empregado:

  • Concentrar-se na recuperação: Seguir o tratamento médico, realizar as atividades terapêuticas e cuidar de sua saúde física e mental.
  • Manter contato com o trabalho: Informar-se sobre a situação da empresa e manter contato com seus colegas.
  • Buscar apoio social: Conversar com amigos, familiares e grupos de apoio pode ajudar a lidar com as dificuldades da doença.

Depressão tem cura?

Genuinamente, não sei. A depressão pode ser um estado de existência. Se ela dominar a vontade principal do indivíduo, deixa de ser doença para virar definhamento. Se ela for superada, não significa uma garantia para nunca mais percebê-la.

Talvez, a cura seja um objetivo fantasioso ante uma visão de mundo. Quer dizer que deprimir não seja uma parte de nós, mas um estágio de sofrimento a ser “curado”. Quem sabe, curar seja deixar de sentir.

Mulher em depressão está refletindo sobre sua terapia de psicanálise enquanto está na cozinha desarrumada
Depressão não tem cura tal como você possa imaginar, pois a cura pode ser um estado de reflexão para o amadurecimento

Quando deixamos de sentir, pode ser que também abdiquemos de nosso poder de existir.

Quem sabe a cura não seja o ponto de interesse, mas sim a perspectiva de conviver com o incômodo. Fortalecer o ego talvez seja essa “cura”, pois com a psicanálise percebemos que o convívio com o incômodo da vida possa ser o caminho para uma nova perspectiva de realidade, mais amadurecida.

Portanto, curar não seja um processo de cura, mas de amadurecimento, investimento em sua intelectualidade, em sua capacidade de se autoconhecer, capacidade de se respeitar, comungar, compartilhar e amar a si tal como gostaria de ser amada.

Quem é Rafael Cardoso?

Sou psicanalista e o produtor de conteúdo deste blog. A mim, cabe o propósito de trazer esclarecimentos acerca os diversos aspectos objetivos e subjetivos do sofrimento psíquico sob o olhar psicanalítico.

Sim, sou psicanalista “raiz”, ou seja, aquele que acredita somente na terapia como processo terapêutico e entendo que a psicanálise é uma ciência e um método psicanalítico, tal como o código de ética da Associação Brasileira de Psicanálise aponta.

Vale esclarecer que somente uma formação teórica não é o suficiente, pois devemos, eticamente, estabelecer também o compromisso com nossa própria prática psicanalítica, ou seja, o tripé psicanalítico (própria psicanálise, supervisão e ter um analisando em sua clínica).

Vou além desse compromisso ético, pois entendo que ainda precisamos pertencer a um grupo de estudos, um grupo de discussão e almejar contribuir com a teoria psicanalítica em algum aspecto reflexivo próprio ante sua experiência clínica.

Experiente na clínica, entendo que a psicanálise é o exercício e a oportunidade de autoconhecimento. Desta forma, o empoderamento também se faz presente ante a prática. Por isso, mais do que um tratamento, pode também representar amadurecimento. Amo o que faço. Amo ver o fortalecimento dos egos dos quais tenho contato.

Amo incentivar os outros e ver a riqueza da psicanálise como processo reflexivo, filosófico e congruente com nossos valores e virtudes. É incrível ver como sua potência de agir ganha força para compreender a necessidade de tolerar o incômodo da vida.

Viver em congruência com o incômodo de nunca atingir nosso ideal de vida é a grande sacada para ter vontade de viver.

Para requerer acesso a minha agenda de atendimento, clique aqui.

@rafaelcardosopr

O comprometimento é a base de qualquer processo de transformação. 🌱 Na jornada da Psicanálise, isso é especialmente verdadeiro. 🧠 Se perguntar “Por que a terapia não pode ser gratuita?” pode ser um questionamento comum. Mas sejamos francos, comprometer-se financeiramente com a terapia é também comprometer-se emocionalmente com o seu próprio crescimento. 💰💙 Quando você investe em Terapia, está na verdade investindo em você mesmo, dando um sinal para o seu eu interior que está pronto para priorizar sua saúde mental e emocional.🏋️‍♀️🧘‍♀️ Afinal, nada valioso na vida vem sem esforço ou custo, não é mesmo? 🎁 A psicanálise não é diferente. É um compromisso que exige investimento de tempo, energia e recursos financeiros. 💪💼💵 Então, lembre-se: o valor que você paga para o seu psicanalista é o valor que você dá a si mesmo, à sua saúde mental e ao seu futuro. 🌟💖 #terapiadegraca #terapiagratuita #psicanalise #psicanalista #valoresociais #sessaodeterapia #amorproprio #narcisista #narcisistas #narcisismo #rafacardosopr

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