Rafael Cardoso Psicanálise

Feminismo não é um conceito que alimenta a guerra entre os gêneros. Está além dessa ideia medíocre. Feminismo também não é o antônimo de machismo. Como irei demonstrar aqui, feminismo é essencial para todos como um aspecto associado à saúde mental.

Enquanto a sociedade não perceber que o feminismo é essencial para a natureza do equilíbrio social, iremos sempre rumar ao atraso, à desigualdade e ao descaso com o próximo.

Feminismo tão importante que deve ser uma cultura praticada entre homens e mulheres. Portanto, há de se ter consciência sobre a relação que temos com os processos morais e éticos dos quais estamos todos inseridos.

Acompanhe este texto e compreenda como isso é fundamental para sua saúde emocional e mental.

Machismo e feminismo: termos frequentemente utilizados como antônimos, como se representassem lados opostos em uma batalha constante. No entanto, essa visão simplista ignora a riqueza e a complexidade das relações de gênero, desconsiderando as nuances e as interseccionalidades que permeiam essa discussão.

Feminismo é uma cultura essencial, enquanto o machismo é um adoecimento social

O Machismo: Uma Estrutura de Poder Opressora

O machismo, longe de ser um conceito monolítico, configura-se como um sistema multifacetado que se manifesta de diversas maneiras em nossa sociedade. Para além das opressões mais visíveis, como a violência contra a mulher e a disparidade salarial, o machismo se enraíza em sutis teias de poder que permeiam os mais diversos aspectos da vida humana.

Na esfera social:

  • Normas de gênero rígidas: As expectativas sociais impostas a homens e mulheres desde a infância moldam seus comportamentos, limitando suas escolhas e perpetuando estereótipos. Homens são incentivados a serem fortes, racionais e independentes, enquanto mulheres são associadas à fragilidade, à emotividade e ao cuidado com o lar.
  • Subvalorização do trabalho doméstico: O trabalho doméstico, historicamente realizado por mulheres, é frequentemente invisibilizado e desvalorizado, mesmo sendo fundamental para o funcionamento da sociedade. Essa desvalorização reforça a ideia de que as mulheres são responsáveis primárias pelo cuidado do lar e dos filhos, limitando suas oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal.
  • Objetificação do corpo feminino: A mulher é frequentemente vista como um objeto de desejo e prazer masculino, tendo seu corpo sexualizado e explorado em diversos contextos, desde a publicidade até a cultura popular. Essa objetificação contribui para a violência contra a mulher e para a construção de uma imagem distorcida da feminilidade.

Na esfera política:

  • Sub-representação feminina: A participação das mulheres em cargos de poder político ainda é ínfima em comparação com a dos homens. Essa sub-representação impede que as demandas e perspectivas femininas sejam devidamente consideradas nas decisões políticas, perpetuando desigualdades e injustiças.
  • Assimetria no poder decisional: Em diversos setores da sociedade, como a economia e a mídia, as mulheres ainda ocupam posições minoritárias de poder decisional. Essa assimetria limita a influência das mulheres na definição de políticas públicas e na construção da agenda social.

Na esfera econômica:

  • Disparidade salarial: As mulheres, em média, recebem salários menores do que os homens para exercerem funções similares. Essa disparidade salarial é fruto de diversos fatores, como a segregação ocupacional, a desvalorização do trabalho feminino e a carga mental do trabalho doméstico.
  • Dificuldades de acesso ao mercado de trabalho: As mulheres ainda enfrentam maiores dificuldades para ingressar e se manter no mercado de trabalho, devido a fatores como a falta de creches, a jornada dupla de trabalho e a discriminação de gênero.
  • Precarização do trabalho feminino: Uma parcela significativa das mulheres trabalha em condições precárias, sem carteira assinada, direitos trabalhistas básicos e acesso à seguridade social. Essa precarização reforça a vulnerabilidade das mulheres e as impede de alcançar sua autonomia econômica.

Na esfera cultural:

  • Estereótipos de gênero: A mídia e a cultura popular frequentemente reforçam estereótipos de gênero que limitam as possibilidades de homens e mulheres. Homens são associados à força física, à racionalidade e à liderança, enquanto mulheres são associadas à beleza, à sensibilidade e ao cuidado com o lar.
  • Invisibilidade de outras identidades de gênero: O machismo muitas vezes exclui e marginaliza pessoas que não se identificam com a binaridade homem-mulher, como pessoas trans e não binárias. Essa exclusão reforça a heteronormatividade e impede o reconhecimento da diversidade de identidades de gênero.

Lutando contra o Machismo: Um Desafio Coletivo

O combate ao machismo exige um esforço conjunto de toda a sociedade, incluindo homens e mulheres. Através da educação, da conscientização e da mobilização social, podemos desconstruir as estruturas patriarcais que perpetuam a desigualdade de gênero e construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

O feminismo, nesse contexto, se apresenta como um movimento fundamental para a transformação social. Ao defender a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, o feminismo busca desmantelar o sistema machista e construir uma sociedade onde todas as pessoas possam se desenvolver plenamente, independentemente de seu gênero.

O narcisista posicionado – um espelho do machismo

O machista assume uma postura bastante peculiar diante a premissa de comparação dado o espectro de personalidade narcisista. No vídeo abaixo, explico meu ponto e trago uma relação bem expressiva com a relação do narcisista perverso.

@rafaelcardosopr

Por que você precisa saber sobre a dinâmica de existência do NARCISISTA posicionado? Esse conceito é uma reflexão minha dada a circunstância de uma estrutura social projetada no falocentrismo já apontado por Freud. Inclusive, minha reflexão está extremamente posicionada para uma percepção analítica usando a psicanálise como aspecto referencial. Terapia parece ser a única solução para trazer sentido ante esses aspectos instituídos num relacionamento abusivo. Entenda mais assistindo a esse vídeo e me ajudando a enriquecer essa análise. #narcisista #relacionamento #tiktokbrasil #psicanalise #terapia #dependenciaemocional

♬ som original – Rafael Cardoso

O Feminismo: Um Farol Iluminando a Luta pela Igualdade

Em contraposição ao machismo, que ergue muros de opressão e desigualdade, o feminismo surge como um farol que ilumina o caminho para a liberdade e a igualdade. Mais do que um movimento social e político, o feminismo se configura como uma filosofia de vida que questiona as estruturas patriarcais que permeiam a sociedade e busca construir um mundo onde todos os indivíduos, independentemente de seu gênero, possam se desenvolver plenamente.

Desconstruindo Mitos e Construindo Novas Realidades

O feminismo se debruça sobre a desconstrução de mitos e estereótipos de gênero que, por tanto tempo, moldaram as relações entre homens e mulheres. Através de diferentes correntes e vertentes, o movimento questiona a ideia de que a biologia define o papel social de cada indivíduo, abrindo espaço para a construção de identidades mais autênticas e livres de amarras pré-determinadas.

Judith Butler, renomada filósofa e teórica de gênero, nos convida a refletir sobre a performatividade de gênero. Em sua obra “Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity”, Butler argumenta que o gênero não é algo inato, mas sim algo que se constrói através de ações e performances sociais. Através dessa perspectiva, o feminismo nos convida a questionar as normas e expectativas impostas a cada gênero, abrindo espaço para a fluidez e a diversidade de identidades.

Um Movimento Plural e Interseccional

Longe de ser um monólito, o feminismo se caracteriza por sua pluralidade e interseccionalidade. Diversas vozes se unem sob essa bandeira, cada qual com suas experiências, perspectivas e reivindicações. Feminismo negro, feminismo indígena, feminismo LGBTQIA+, feminismo popular, ecofeminismo: cada vertente contribui para a riqueza e a complexidade do movimento, reconhecendo as diferentes formas de opressão que afetam as mulheres e as pessoas marginalizadas.

Um Compromisso com a Transformação Social

O feminismo não se limita a palavras e discursos. O movimento se traduz em ações concretas que visam transformar a realidade e construir uma sociedade mais justa e igualitária. Através de lutas por direitos reprodutivos, por igualdade salarial, por fim à violência contra a mulher, por representatividade política e por acesso à educação e saúde de qualidade, o feminismo impulsiona mudanças que beneficiam toda a sociedade.

Feminismo: Um Farol que Ilumina o Futuro

O feminismo é um farol que ilumina o caminho para um futuro mais justo e igualitário. Sua luz guia a luta por uma sociedade onde homens e mulheres coexistem em harmonia, onde a diversidade é celebrada e onde todos os indivíduos têm a oportunidade de alcançar seu pleno potencial.

Feminismo é essencial para a transformação da sociedade

Vozes Femininas Tecem o Mosaico da Luta pela Igualdade

As obras de pensadoras como Judith Butler, Bell Hooks, Djamila Ribeiro, Jaqueline Conceição e Maria Rita Kehl, entre tantas outras, tecem um mosaico multicolorido que nos convida a mergulhar na complexa teia das relações de gênero. Através de diferentes perspectivas, teorias e experiências, essas autoras desvendam as raízes do machismo, exploram as interseccionalidades que moldam as experiências de opressão e defendem a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

Judith Butler, em sua obra “Corpos que importam“:

Judith Butler – 1ª Edição (2019)

Se o gênero é construído por meio de relações de poder e, especificamente, por restrições normativas que não só produzem, mas também regulam vários seres corporais, como poderia o agenciamento ser derivado dessa noção de gênero como efeito da restrição produtiva? Se o gênero não é um artifício para ser colocado ou retirado à vontade e, portanto, não é um efeito de escolha, como podemos entender o estatuto constitutivo e compulsório das normas de gênero sem cair na armadilha do determinismo cultural? Como podemos entender a repetição ritualizada pela qual essas normas produzem e estabilizam não só os efeitos de gênero, mas também a materialidade do sexo? E essa repetição, essa rearticulação, pode também constituir a ocasião para uma reformulação crítica das normas de gênero aparentemente constitutivas?

Bell Hooks, pseudônimo de Gloria Watkins, se destaca como uma das vozes mais importantes do feminismo negro e interseccional. Através de sua escrita engajada e de sua atuação como ativista, Hooks desafiou as estruturas patriarcais e racistas da sociedade americana, inspirando gerações de mulheres e minorias a lutarem por seus direitos. Um dos livros relevantes em seu legado é “Não sou uma mulher“, confira no link o pdf.

Um dos principais méritos de Hooks foi sua capacidade de articular a complexa intersecção entre gênero, raça, classe e outras categorias de opressão. Em suas obras, como “Feminismo é para Todos” e “Erguer a Voz: Pensar como Feminista, Pensar como Negra”, Hooks expôs como o machismo e o racismo se entrelaçam para manter mulheres negras marginalizadas e silenciadas.

Hooks reconhecia a importância da sororidade entre as mulheres, mas também defendia a necessidade de um feminismo que fosse interseccional, capaz de reconhecer as diferentes formas de opressão que afetam as mulheres. Ela criticava o feminismo branco hegemônico por sua exclusão de mulheres negras e de outras minorias, defendendo um movimento mais inclusivo e representativo.

Djamila Ribeiro, em “Lugar de Fala”, (https://journals.openedition.org/horizontes/3565?lang=en), nos convoca a compreender o direito de falar sobre determinados assuntos como um exercício empático, especialmente quando se trata de questões raciais e de gênero. A autora defende a importância da representatividade e da escuta das vozes marginalizadas para a construção de um discurso público mais justo e plural.

Jaqueline Conceição, em “Periferias: Margens, Fronteiras e Subjetividades”, tece um retrato das periferias urbanas brasileiras, explorando as diversas formas de opressão e resistência que marcam a vida das pessoas que lá habitam. A autora destaca a importância de reconhecer a diversidade e a riqueza cultural das periferias para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Maria Rita Kehl, em “A mínima diferença”, escreve:

Fonte: Blog da Boi Tempo

Parece que nada mudou muito: mulheres e homens continuam procurando a psicanálise para falar da sexualidade e suas ressonâncias; mas o que se diz ali já não é a mesma coisa. “O que devo fazer para ser amada e desejada?”, perguntam as mulheres, com algum ressentimento: não era de se esperar que o amor se tornasse tão difícil já nos primeiros degraus do paraíso da emancipação sexual feminina. “O que faço para ser capaz de amar aquela que afinal me revelou o seu desejo?”, perguntam os homens, perplexos diante da inversão da antiga observação freudiana, segundo a qual é próprio do feminino fazer-se amar e desejar o próprio do homem, narciso ferido eternamente em busca de restauração, amar sem descanso aquela que parece deter os segredos da sua cura. Mulheres que já não sabem se fazer amar, homens que já não amam como antigamente. Como se pedissem aos psicanalistas: “o que faço para (voltar a) ser mulher?”, “como posso (voltar a) ser homem?” – questões que me remetem à observação de Arnaldo Jabor em artigo de para a Folha de São Paulo, sobre o choro (arrependido?) de algumas mulheres da cena política e da mídia brasileiras: “O que é isso? A feminilidade como retorno?”.

Juntas, essas vozes feministas compõem um coro poderoso que ecoa pela sociedade, desafiando as estruturas patriarcais e inspirando a construção de um mundo mais justo e equitativo para todos.

Psicanálise e Feminismo: Desvendando as Raízes do Machismo na Psique

A psicanálise surge como um aliado crucial na luta feminista, oferecendo ferramentas valiosas para desvendar as raízes do machismo e do sexismo internalizados em nossa psique. Através da análise dos desejos inconscientes, das relações interpessoais e da construção da identidade, a psicanálise nos convida a mergulhar na complexa teia das relações de gênero, iluminando as nuances e as contradições que permeiam essa discussão.

Desconstruindo os Padrões Patriarcais Internalizados

A psicanálise nos ajuda a compreender como os padrões patriarcais, presentes na sociedade em que vivemos, se internalizam em nossa psique desde a infância. Através da análise de relações familiares, experiências precoces e influências sociais, podemos identificar como esses padrões moldam nossa visão de mundo, nossas relações interpessoais e nossa própria identidade de gênero.

Explorando os Desejos Inconscientes

A psicanálise nos convida a explorar os desejos inconscientes que guiam nossos comportamentos e decisões. Através da análise de sonhos, fantasias e atos falhos, podemos identificar como desejos inconscientes relacionados ao poder, à sexualidade e à identidade de gênero podem estar contribuindo para a perpetuação do machismo e do sexismo em nossas vidas.

Desvendando as Relações Interpessoais

A psicanálise nos permite examinar as relações interpessoais de forma crítica, reconhecendo as dinâmicas de poder e as estruturas patriarcais que permeiam nossas interações com amigos, familiares, parceiros e colegas de trabalho. Através dessa análise, podemos identificar padrões de comportamento que reproduzem o machismo e buscar alternativas mais saudáveis e igualitárias.

Construindo uma Identidade Autêntica

A psicanálise nos auxilia na construção de uma identidade autêntica, livre dos estereótipos e das expectativas de gênero impostas pela sociedade. Através do autoconhecimento e da desconstrução dos padrões internalizados, podemos nos libertar das amarras do machismo e construir uma identidade que reflita nossa verdadeira essência.

Em Busca da Emancipação Individual e Coletiva

A psicanálise, ao contribuir para a desconstrução do machismo internalizado, abre caminho para a emancipação individual e coletiva. Através do autoconhecimento, da crítica social e da construção de relações mais justas e igualitárias, podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e livre do machismo.

Homens como Aliados na Luta Contra o Machismo

É fundamental reconhecer que o machismo não beneficia apenas os homens, mas sim perpetua um sistema que gera sofrimento para todos. Ao compreenderem os mecanismos de opressão e se engajarem na luta contra o machismo, os homens podem se tornar aliados valiosos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Os homens, sejam héteros ou homossexuais, precisam compreender que seus privilégios podem se transformar em sofrimento. Porque o machismo é uma estrutura que oprime quem foge do padrão de comportamento esperado pela dinâmica do patriarcado.

O machismo reforça os aspectos de desigualdade porque estabelece uma hierarquia diante da existência do falo. Esses aspectos de sofrimento institui uma verticalização nas relações. E quando há poder entre os relacionamentos, há opressão.

Por isso, homens que querem combater essa desigualdade e encarar a realidade feminista como uma solução contra o patriarcado, precisam também ter comportamento anti-machista. Inclusive, é necessário ter homens anti-machistas porque não se trata de disputa de privilégios, mas entender que se trata de um direito constitucional.

Empoderamento e Colaboração: Construindo um Futuro Mais Justo

O feminismo não busca a supremacia feminina, mas sim a igualdade de direitos e oportunidades para todos os gêneros. Através do diálogo, da colaboração e do empoderamento individual e coletivo, podemos construir um futuro onde as relações de gênero sejam pautadas pelo respeito, pela justiça e pela liberdade.

Lembre-se:

  • Machismo e feminismo não são antônimos, mas sim peças de um mesmo quebra-cabeça.
  • O feminismo é um movimento legítimo e necessário para a construção de uma sociedade mais justa.
  • Homens podem e devem ser aliados na luta contra o machismo.
  • O empoderamento individual e coletivo é a chave para a transformação social.

Juntos, podemos construir um mundo onde a igualdade de gênero seja uma realidade, não apenas um sonho.

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